A BUGRA DELORE
Abela Delore era uma índia da “Nação Guarani”, que, com Pepito seu pequeno irmão, procurava, numa
noite escura e triste do Paraguai, seu pai e irmãos entre os mortos na Batalha
do Avaí, durante a Grande Guerra. E eles estavam lá e, lá, eles estavam mortos.
Petrificada e muda fica ali, debaixo das estrelas, sentindo na boca o gosto
amargo de suas lágrimas salgadas. Embaixo de seus pés havia "mil"
cadáveres. Parecia estar em outro mundo. Um mundo amargo, destruído pela
insanidade humana. De repente, outra vez, a outra amarga realidade do amargo mundo
real. Entre os mortos, que eram muitos, um resmungo. Aproxima-se e vê um cão lambendo um soldado brasileiro. O
soldado era um “brummer”, resmungando em alemão. Ele estava gravemente ferido
por uma lança paraguaia que o varou, mas ainda respira, geme e resmunga. O nome
do soldado é Carlos Daniel Gross, de Três Forquilhas (no futuro, ficará
conhecido como, “Paraguaio Gross”). O soldado e Valente, o seu cachorro, são
tratados por Abela Delore e Pepito por alguns dias e depois entregues para o
exército brasileiro. Tempos após, Paraguaio Gross chega a Três Forquilhas
montado em Hidalgo e na garupa Abela Delore, a índia paraguaia. Mais atrás
a égua Milonga com os "trens" e Valente, o cachorro veterano de
guerras com suas muitas cicatrizes. Pepito que os acompanhava, sentindo
saudades de sua terra, voltou do meio do caminho. O vencedor da guerra diz que
sua vida pertence à Delore que o salvou e com ela se casa. O casamento é uma
grande festa na colônia. Pedro Baiano é seu cunhado e Candinho Baiano seu
capataz. Mas Paraguaio Gross quando volta da guerra, volta doente e vive pouco,
deixando Abela Delore e seus filhinhos pequenos. Ela, a viúva, depois da morte
do marido, adquire a doença dos nervos. Doa os filhinhos para os parentes de
Daniel e de cima de um serro fica a mirar o horizonte. Sente saudades de sua
terra, sua gente e de Pepito, seu irmão pequeno. E numa terra estrangeira ela chora,
enlouquece e também morre cedo. Agora sua história é contada como Lenda para
nunca mais ser esquecida.
Adaptado do Livro: Vale do Mampituba __ Bento Barcelos da Silva
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