O HOMEM SECO DA IGREJA MATRIZ
José Rodrigues da Silva (1832_1896)
simpatizante maragato, neto do alferes pioneiro-povoador da Villa, filho do
construtor da capela de São Domingos das Torres e pai de guerrilheiros tem
história que não foi contada. Tornou-se um vulto apagado. Grande proprietário
de terras na região, Juiz de Paz em Araranguá, mesário de eleições em São
Domingos das Torres. Era um homem que estava acamado e doente, quando, no
escaldante verão de 1896, foi preso nos costões da serra, altos do Vale do
Mampituba, na localidade do Espigão de Barro, por homens do governo. Seu crime
foi ter enterrado um companheiro que jazia insepulto há dias e tendo seu corpo
já em decomposição, e em parte devorado pelas feras. Era para servir de
escarmento. José foi trazido para a Villa de São Domingos das Torres com
requintes de crueldade. Por trinta quilômetros veio caminhando com os pés
descalços e escoltado por homens montados. Tinha as mãos amarradas e atadas,
por pequena corda, à cela do cavalo de um de seus algozes. Quando chegou na
Villa foi estaqueado e depois degolado. Teve seu corpo abandonado insepulto
para que as feras e aves de rapina o devorassem. Era também para servir de
escarmento. Porém, na calada da noite, os amigos enrolaram aquele corpo sem
vida em um couro de boi salgado e o costuraram. Depois o enterraram nas dunas
da Praia da Cal entre a Lagoa da Villa e a Torre Norte. Um ano e meio após as
dunas em movimento, que ameaçavam soterrar o pequeno vilarejo de uma só rua,
descobrem o couro com os restos mortais de José e cunhou-se a ideia que a terra
não o aceitou no seu ventre e ele secou. Segundo o folclore, o corpo seco de
José foi emparedado entre as grossas paredes da Igreja Matriz. Virou lenda. Os
filhos guerrilheiros fizeram uma revolta local, para vingar a morte do pai,
esticando a guerra federalista na região do Vale do Mampituba por mais dois
longos anos.
Adaptado do Livro:Vale do Mampituba __ Bento
Barcelos da Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário