LENDAS
MORTAS & LENDAS VIVAS DO VALE DO MAMPITUBA
Trata-se
de vultos que fazem parte da história da região e pessoas que ainda
vivem.
"A
História é construída de fatos; a lenda de fantasias. A lenda não
passa de ficção do espírito humano, com bases populares, e não
precisa ter compromissos com a verdade, porém nada nos impede
submetê-la a certa dose de crítica histórica, na procura da
fagulha que poderia ter causado a fumaça". RRRuschel
Ouvi
de um velho: “As lendas não devem morrer para que os velhos que
hão de vir possam continuar contando para os mais jovens e esses,
quando ficarem velhos, continuarem contando”: "E a terra o
expulsou do seu ventre...”
I.
Lendas Mortas
Candinho
Baiano1
Homem
Bom Taxado de Bandido
Eram
cinco soldados cearenses, que se achavam desertores da Guerra do
Paraguai e vieram parar no Vale do Três Forquilhas. Foram muito bem
recebidos pela sociedade local. O líder político da região
simpatizando com eles os apelida de baianos. Ali eles construíram
família e viveram mais de vinte anos naquela comunidade. Mas
infelizmente foram todos assassinados: um por motivo fútil e os
outros quatros num pós guerra por motivos políticos. Vingança de
guerra em tempos de paz.
Candinho
era o mais jovem, mais falador e o líder do grupo e tornou-se também
uma liderança local. Fica conhecido para a história como Candinho
Baiano, após sua morte virou lenda.
Iluminado
pela luz mortiça de uma pixirica, diz a lenda: “Lá no sertão do
distante e seco Ceará, quando a parteira levantou a criança nos
braços magros e fortes para dizer que era um menino, a velha e
enrugada feiticeira que acompanhava o ritual, colocou em seu pescoço,
amarrado por um barbante, um patuá e proferiu as seguintes palavras:
“Será um homem muito corajoso e valente e frente a frente ninguém
terá coragem de enfrentá-lo. Para vencê-lo (prender ou matar) só
se fizerem traição muito bem feita”. Depois, com o tempo, diziam
que o patuá o protegia da morte. Estava envolto por um escapulário
sebento. Mas a traição foi muito bem feita, pois, na Noite dos
Reis, um bando de assassinos se misturou com os homens das cantorias
e quando Candinho Baiano esticou o braço,
para
entregar a oferenda ao Menino, foi vilmente degolado. Agentes do
governo usaram o nome de Deus para matá-lo. Feriram o sagrado. Do
corpo estirado no chão, rapidamente tiraram o patuá para que
Candinho Baiano, realmente, permanecesse sem vida”.
Enquanto
seu corpo ficou esticado na terra sua alma de homem simples deve ter
subido ao céu com o Menino segurando sua mão, enquanto ascendia.
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