Náufragos
do paredão1
Kideeeê
Kid
(Euclides Manoel Mariano), é uma verdadeira lenda viva torrense e
por esse motivo a história dele deve ser para sempre lembrada. Num
outro tempo, mais no passado, exatamente no dia 19/08/1968, uma
madrugada invernosa, no Morro das Furnas, ocorreu um fato violento e
chocante. Aconteceu em uma noite úmida e ventosa, com um mar
agitadíssimo tocado de sul. Diversos pescadores se esparramavam nas
partes altas dos pesqueiros locais com suas linhas de mão lançadas
ao mar revolto. Uma pescaria de miraguaias. Como era costume usam
surradas roupas pesadas para se protegerem do frio cortante de uma
madrugada escura.
Entre
eles o menino Kid com catorze anos, adolescente, muito pobre e recém
chegado do interior. Ainda não conhecia bem o mar, mas, como todo
jovem, era ágil e afoito, e tinha coragem.
Em
um dado momento o pescador Clóvis Daitx “ferra” uma miraguaia e
com ajuda do menino Kid desce no pesqueiro Furna Grande para, com
ajuda dele, “embucheirar” e sacar o peixe de dentro do mar
agitado. E foi ali que o imprevisto aconteceu. Quando a miraguaia
estava avista e Kid com o “bucheiro” na mão se prepara para
arrebatar o troféu, o mar lança uma poderosa e traiçoeira onda
que, como uma imensa língua, lambe o menino audaz para o fundo do
mar. Para desespero do Clóvis, o amigo Kid junto com a miraguaia
desaparecem com a onda na escuridão. O peixe ficou livre da linha
que o prendia, mas o jovem pescador desapareceu enrolado na onda que
o derrubou. Tal fato aconteceu por volta da uma hora e trinta minutos
da madrugada. O mar que dá o peixe costuma cobrar tributos, levando
com regularidade um pescador. Seria, Kid, naquela noite, um tributo
cobrado?
Eu,
na ânsia de fisgar a miraguaia, senti quando uma onda gigante me
empurrou pelas costas e me socou com força para o fundo do mar.
Depois ondas enormes me sufocaram contra o paredão. Me apaguei e
acordei sem roupas. Sentia muita dor e um frio que travava os
movimentos. Chorei e orei sem saber se estava vivo ou estava morto.
Ouvia vozes, mas eram distantes e confusas... Depois uma Luz, era
Jesus. Falou comigo com carinho e me prestou os primeiros socorros.
Me colocou sobre uma ferramenta improvisada e me orientou. Em seguida
deu três puxões numa corda e eu comecei a subir. Quando cheguei lá
encima mãos amigas de pessoas emocionadas vieram ao meu encontro. Já
faz meio século que a lenda nasceu.
A
história assim como a verdade tem muito de imaginação, e a
história oficial sempre foi ingrata com os humildes, portanto vamos
transformar a história deles em lendas para que possam ser contadas
e nunca mais esquecidas.
Não
deixem as lendas morrer. Elas encantam e espantam.
Referências
da
Silva, Bento Barcelos. Vale
do Mampituba História: Realidade e Imaginação. Porto
Alegre 2018.
da
Silva, Bento Barcelos. Rabiscando
na Areia.
Torres 2018
Fernandes,
Débora. Torres
História em Crônicas Volume 1.
Torres 2019
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