Por
meu Deus, por Rei e por Castela foram palavras ditas por El Cid, o
mais leal dos homens e o mais nobre dos guerreiros que povoou a mente
infanto-juvenil deste escriba contador de histórias. Foi para sua
última batalha mumificado. Estava Morto. Seu nome correto: Rodrigo
Dias de Vivar. Uma lenda, é claro.
Rodrigues,
nome muito comum na região do Vale do Mampituba, segundo os
estudiosos quer dizer o filho de Rodrigo, portanto o filho da lenda
de um homem seco. E aqui em São Domingos das Torres nós temos um
filho da lenda que virou lenda, um filho de El Cid. Era um
simpatizante maragato que em uma madrugada foi feito prisioneiro
pelos homens do governo. Este fato aconteceu nos costões da Serra
Geral, no lugar denominado Barro Cortado. Era um velho doente e
acamado que tinha tomado como linimento um purgativo. Foi trazido
para a “Villa” com requintes de crueldades. Andou a pé por
trinta quilômetros com os punhos amarrados e atados por uma pequena
corda a cela do cavalo de um de seus algozes.
Quando
aqui chegou estava febril, desnutrido e desidratado, vivo por
milagre. Depois foi estaqueado e mais tarde degolado. Seu corpo fiou
insepulto para que as feras e as aves de rapina o devorassem. Era
para servir de escarmento.
Não
teve direito a um atestado de óbito e nem de corpo delito. Era
proibido. Foi chamado pelos inimigos políticos, com muita ironia, de
bandido. Porém para os parentes e amigos era uma vítima.
Contudo,
na calada da noite os parentes e amigos, sem velório, enterraram
aquele corpo enrolado em um couro de boi salgado e costurado. Foi
enterrado em uma cova rasa nas dunas da Praia da Cal, entre a lagoa
da “Villa” e a Torre Norte. Dunas que, naquela época, invadiam o
vilarejo e ameaçava soterra-lo. Vilarejo que era apenas uma pequena
rua.
Tempos
depois o travesso vento resolve descobrir o couro de boi com os
restos mortais do mártir. Os inimigos políticos, novamente com
muita ironia, disseram que a terra não o aceitou no seu ventre
porque era um homem muito ruim.
Mais
tarde, no imaginário popular, criou-se a ideia que o mar expulsou de
suas águas e o fogo não o aceitou em suas chamas e então aquela
corama foi parar na igreja matriz de São Domingos das Torres que o
aceitou. Um lugar merecido, segundo os parentes que o consideram um
santo. Nasceu a lenda.
Ele
teve muitos filhos com muitas mulheres e três deles fizeram uma
guerra local para vingar a morte do Pai.
Seu
nome José Rodrigues da Silva, neto do alferes povoador da “Villa”.
NÃO
DEIXEM A LENDA MORRER, ELA ENCANTA E ESPANTA.
1
Adaptação do livro O Vale do
Mampituba Capítulo XV
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