segunda-feira, 4 de maio de 2020


LENDAS MORTAS & LENDAS VIVAS DO VALE DO MAMPITUBA


Trata-se de vultos que fazem parte da história da região e pessoas que ainda vivem.
"A História é construída de fatos; a lenda de fantasias. A lenda não passa de ficção do espírito humano, com bases populares, e não precisa ter compromissos com a verdade, porém nada nos impede submetê-la a certa dose de crítica histórica, na procura da fagulha que poderia ter causado a fumaça". RRRuschel
Ouvi de um velho: “As lendas não devem morrer para que os velhos que hão de vir possam continuar contando para os mais jovens e esses, quando ficarem velhos, continuarem contando”: "E a terra o expulsou do seu ventre...”
 
I. Lendas Mortas
                Candinho Baiano1
Homem Bom Taxado de Bandido
Eram cinco soldados cearenses, que se achavam desertores da Guerra do Paraguai e vieram parar no Vale do Três Forquilhas. Foram muito bem recebidos pela sociedade local. O líder político da região simpatizando com eles os apelida de baianos. Ali eles construíram família e viveram mais de vinte anos naquela comunidade. Mas infelizmente foram todos assassinados: um por motivo fútil e os outros quatros num pós guerra por motivos políticos. Vingança de guerra em tempos de paz.
Candinho era o mais jovem, mais falador e o líder do grupo e tornou-se também uma liderança local. Fica conhecido para a história como Candinho Baiano, após sua morte virou lenda.
Iluminado pela luz mortiça de uma pixirica, diz a lenda: “Lá no sertão do distante e seco Ceará, quando a parteira levantou a criança nos braços magros e fortes para dizer que era um menino, a velha e enrugada feiticeira que acompanhava o ritual, colocou em seu pescoço, amarrado por um barbante, um patuá e proferiu as seguintes palavras: “Será um homem muito corajoso e valente e frente a frente ninguém terá coragem de enfrentá-lo. Para vencê-lo (prender ou matar) só se fizerem traição muito bem feita”. Depois, com o tempo, diziam que o patuá o protegia da morte. Estava envolto por um escapulário sebento. Mas a traição foi muito bem feita, pois, na Noite dos Reis, um bando de assassinos se misturou com os homens das cantorias e quando Candinho Baiano esticou o braço, para entregar a oferenda ao Menino, foi vilmente degolado. Agentes do governo usaram o nome de Deus para matá-lo. Feriram o sagrado. Do corpo estirado no chão, rapidamente tiraram o patuá para que Candinho Baiano, realmente, permanecesse sem vida”.
Enquanto seu corpo ficou esticado na terra sua alma de homem simples deve ter subido ao céu com o Menino segurando sua mão, enquanto ascendia.








1 Adaptação do Livro Vale Mampituba – Capítulo VII

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