segunda-feira, 4 de maio de 2020

Homem Seco da Igreja Matriz


O Homem seco da Igreja Matriz1
Por meu Deus, por Rei e por Castela foram palavras ditas por El Cid, o mais leal dos homens e o mais nobre dos guerreiros que povoou a mente infanto-juvenil deste escriba contador de histórias. Foi para sua última batalha mumificado. Estava Morto. Seu nome correto: Rodrigo Dias de Vivar. Uma lenda, é claro.
Rodrigues, nome muito comum na região do Vale do Mampituba, segundo os estudiosos quer dizer o filho de Rodrigo, portanto o filho da lenda de um homem seco. E aqui em São Domingos das Torres nós temos um filho da lenda que virou lenda, um filho de El Cid. Era um simpatizante maragato que em uma madrugada foi feito prisioneiro pelos homens do governo. Este fato aconteceu nos costões da Serra Geral, no lugar denominado Barro Cortado. Era um velho doente e acamado que tinha tomado como linimento um purgativo. Foi trazido para a “Villa” com requintes de crueldades. Andou a pé por trinta quilômetros com os punhos amarrados e atados por uma pequena corda a cela do cavalo de um de seus algozes.
Quando aqui chegou estava febril, desnutrido e desidratado, vivo por milagre. Depois foi estaqueado e mais tarde degolado. Seu corpo fiou insepulto para que as feras e as aves de rapina o devorassem. Era para servir de escarmento.
Não teve direito a um atestado de óbito e nem de corpo delito. Era proibido. Foi chamado pelos inimigos políticos, com muita ironia, de bandido. Porém para os parentes e amigos era uma vítima.
Contudo, na calada da noite os parentes e amigos, sem velório, enterraram aquele corpo enrolado em um couro de boi salgado e costurado. Foi enterrado em uma cova rasa nas dunas da Praia da Cal, entre a lagoa da “Villa” e a Torre Norte. Dunas que, naquela época, invadiam o vilarejo e ameaçava soterra-lo. Vilarejo que era apenas uma pequena rua.
Tempos depois o travesso vento resolve descobrir o couro de boi com os restos mortais do mártir. Os inimigos políticos, novamente com muita ironia, disseram que a terra não o aceitou no seu ventre porque era um homem muito ruim.
Mais tarde, no imaginário popular, criou-se a ideia que o mar expulsou de suas águas e o fogo não o aceitou em suas chamas e então aquela corama foi parar na igreja matriz de São Domingos das Torres que o aceitou. Um lugar merecido, segundo os parentes que o consideram um santo. Nasceu a lenda.
Ele teve muitos filhos com muitas mulheres e três deles fizeram uma guerra local para vingar a morte do Pai.
Seu nome José Rodrigues da Silva, neto do alferes povoador da “Villa”.
NÃO DEIXEM A LENDA MORRER, ELA ENCANTA E ESPANTA.
1 Adaptação do livro O Vale do Mampituba Capítulo XV

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