segunda-feira, 4 de maio de 2020


MÃE MARIA1
A escrava que foi princesa
Nidanji, filha mais velha de Yabá-Yeyê (Rainha Mãe), da nação Nagô, nasceu em 1825 na África. Era uma princesa, e um dia iria suceder sua mãe no reinado matriarcal de sua pequena tribo, lá do outro lado do mar, no distante continente negro. Porém, ela foi sequestrada, por outros negros, vendida para traficantes brancos e separada de Yabá-Yeyê e de seu futuro pequeno reino. No ano de 1847, quando estava com vinte e dois anos, foi adquirida no mercado de escravos em Porto Alegre juntamente com pai Vicente, com quarenta e cinco, e que se tornará seu esposo. Tiveram filhos. Foi comprada pelo pastor, imigrante, Adolfo Voges, líder espiritual e político da Colônia de Dom Pedro de Alcântara de Três Forquilhas. Iyá Maria, como, também era chamada a princesa da Nação Nagô, agora escrava, aprendeu a falar, ler e escrever fluentemente o alemão e vivia entre alemães, na sua maioria, semianalfabetos em sua própria língua.
Mãe Maria, como ficou conhecida, com o tempo tornou-se, também, fluente na língua portuguesa e preservou sua língua nativa, o “yorubá” da Nação Nagô, mantendo, assim, viva a cultura de sua tribo em uma terra estrangeira. Tinha um terreiro dentro da propriedade do pastor, no pátio do engenho, onde fazia os seus batuques, muitas vezes frequentados pelos alemães. Foi uma espécie de curandeira e sacerdotisa entre os escravos da região. Receitava chás e xaropes que ela, mesmo, preparava, feitos de folhas, ervas ou raízes medicinais. Fazia rezas e benzeduras e cuidava com carinho de todos os doentes, pretos ou brancos. Preparava afrodisíacos feitos com ovos de pássaros, mel de abelha e ervas do campo. Era, também, excelente cozinheiras e doceira. Nidanji morreu em 1894 no Vale Três Forquilhas aos sessenta e nove anos, vitimada por cólera que dizimou a região.
1 Adaptação do livro O Vale do Mampituba Capítulo V

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