domingo, 26 de julho de 2020

Caingangues e os estrangeiros

CAINGANGUES E OS ESTRANGEIROS




Eu sou o índio Manoel dos Santos _ “Índio Guarani Missioneiro” _ e vou contar o que sei: Quando os primeiros imigrantes alemães protestantes chegaram ao Vale dos Três Forquilhas_, "Uma choupana estava lá com aparência vistosa". Era o Templo Sagrado. Havia outras cabanas. Foram construídas pelos índios caingangues, vindos da aldeia dos Três Pinheiros e requisitados para esta tarefa de apoio aos colonos. Assim nasceu a colônia dos alemães protestantes de São Pedro de Alcântara dos Três Forquilhas no Presídio das Torres. "Foi o índio guarani missioneiro Estebam dos Santos que conseguiu reunir quase duas dezenas de índios caingangues liderados pelo cacique Aivoporã". No começo, os selvagens, um povo dócil são uma força de apoio muito grande. Estebam “Missioneiro” era amigo do cacique Aivoporã. Eles se conheceram bem antes da chegada dos estrangeiros. Eu sou filho de Estebam “Missioneiro”. Meu pai foi prisioneiro de guerra e veio para o Sítio das Torres com outros prisioneiros para construir o Baluarte Ipiranga e a Capela. Ele e os outros prisioneiros de guerra falavam o guarani e o espanhol, e depois aprenderam o português. Eu também conheci Aivoporã _ Cacique dos Caingangues. Naquele tempo eu era guri pequeno. Eles, os caingangues, sempre moraram aqui e dominavam todo esse vale _ Vale dos Três Pinheiros. Os colonos chegaram depois, muito tempo depois. Foi Estebam “Missioneiro”, meu pai, que recebeu a tarefa do coronel de buscar o cacique e seus guerreiros para ajudar os alemães a construir suas choupanas. E eles, os caingangues, construíram a “Choupana Templo” e outas mais para os estrangeiros, e também permitiram a divisão de suas terras. Porém, agora não existe mais bugres em Três Pinheiros. Eles lá moraram até o ano de 1847 e eram índios caingangues. Os bugres ficaram cruzando pelos fundos das propriedades dos Alemães. _ As mulheres com os filhos pendurados nas tetas e as vergonhas à mostra; os homens com arco, flechas e até facões, e os “balangandãs” balançando ingenuamente. Ali sempre fora o caminho deles. Porém, agora, os alemães começaram a criar obstáculos. Não queriam que os gentios passassem por suas propriedades. Surgiu um mal-estar. Tinham medo. Os imigrantes vendo os índios andando nus, dentro de suas propriedades, não saiam mais de casa sem levar uma espingarda a tiracolo. Sentindo-se ameaçados só restou para os gentios se mudarem para mais longe e foram subindo a serra. Um dia um sesmeiro luso brasileiro com um papel na mão, uma bíblia debaixo do braço, muitos capangas fortemente armados e cães bravios, veio para tomar posse da terra dos caingangues, a aldeia dos Três Pinheiros. Fez uma chacina no local onde morreram o cacique Aivoporã e muitos dos seus valentes guerreiros. Seus corpos foram jogados em um perau. Os que sobraram continuaram subindo a serra, indo morar cada vez mais longe e mais no alto. Um dia desapareceram para sempre. Foram em direção aos felizes campos de caça, na Terra dos Espíritos. Eu casei com Madalena Menger e aprendi o alemão e contei esta história para ser uma Lenda.

Adaptado do Livro: Vale do Mampituba __ Bento Barcelos da Silva

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