PRAGA DO PADRE E PORTO DAS TORRES
Durante
o primeiro império surgiu no “Sítio das Torres”
uma ideia portuária porque aqui era o melhor e
mais estratégico lugar no país para construção de um grande porto marítimo.
Mas, felizmente, para proteção das nossas belezas naturais, tal ideia não
vingou. Depois, no segundo império, esta ideia voltou forte, com projeto e
estudo das marés, porém, felizmente, outra vez, o porto da “Capela de São
Domingos das Torres” também não vingou. Mais tarde, na república, que já nasceu
velha, a ideia, de novo, tomou corpo e forma, com novo projeto, levantamento
topográfico e estudos de profundidade da costa litorânea. Houve até o início
das obras de um porto auxiliar na praia da Guarita. Contudo, o porto da
“freguesia de São Domingos das Torres”, mais uma vez, não vingou. Na Nova
República, com muita discussão política e promessas de desenvolvimento para a
região, a ideia do porto marítimo para a “Villa das Torres” evoluiu muito,
todavia, depois, mais uma vez morreu. Tio Sam e a Rainha o levaram para Rio
Grande. Lugar impróprio para um porto marítimo e eles sabiam disso. Na segunda
década do século passado tinha na “Villa das Torres” um pároco que estava
afrente do seu tempo. Costumava, ele, nas horas
vagas, frequentar um terreiro onde os pobres nativos faziam seus batuques. Por
este motivo a “dita elite economicamente dominante e conservadora” não
concordou com essa atitude do padre e reclamou para o bispo. Falam por aí que o
bispo determinou para castigarem o padre com uma “tunda de laço” e acrescentou: Depois eu mando outro padre para vocês. O
pároco foi expulso da paróquia. Todavia, ao ir embora teria dito: “Nunca vi, em
todo o mundo, uma classe dominante tão atrasada”. Com o passar do tempo o
folclore modificou as palavras do padre que ficou assim: Torres tu és
(atrasada) e de Torres não passarás, e o porto não há de sair. Esse dizeres
ficou conhecido como a Praga do Padre. E o padre, quando foi embora, não se
benzeu, mas disse apenas: Saravá! Diz o dito popular que praga de padre dura
cem anos. E a voz do povo (Vox Populi) é a
palavra de Deus, portanto, a verdade. Contudo os cem
anos estão passando e em breve a praga estará com sua validade vencida. Talvez
por isso, como uma maldição surgida do fundo do mar, a ideia do porto da cidade
de Torres voltou. Temos, de novo e urgente, que chamar um padre, mas não um
padreco qualquer, moderno e metido a namorador, porém um padre à moda antiga.
Um verdadeiro capa preta que esteja à frente do seu tempo e seja um macumbeiro
de verdade para que o porto das Torres vire uma Lenda. Saravá, Meu Pai!
Adaptado do Livro: Torres História em Crônicas
__ Bento Barcelos da Silva
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