domingo, 26 de julho de 2020

AS PUTAS DE TAQUAREMBÓ






AS PUTAS DE TAQUAREMBÓ




Na virada da segunda para terceira década do século dezenove, chega ao distrito das Torres uma leva de índios guaranis prisioneiros de guerras e também alguns presos sentenciados. “As mulheres, como disse o poeta, traziam filhos e algemas nos braços e na alma lágrimas e fel”. Os homens vieram para construir a Capela, o fortim e estradas pelo interior. Alguns deles foram feitos soldados das Milícias Sertanejas com a finalidade de caçar os bugres. A maioria, no entanto, continuou prisioneiros. Saint-Hilaire, o naturalista francês, que os encontrou pelo caminho, quando por aqui passou, em direção ao sul, disse: “As mulheres são feias e desavergonhadas”. Se este escriba bem entendeu, eram mulheres sofridas e que tinham em oferta as suas vergonhas. Eram as chinas, as putas de Taquarembó. Mas porquê Taquarembó e porquê foram consideradas chinas? Taquarembó era um rio no atual Uruguai, nas margens do qual elas foram feitas prisioneiras, e putas por tanto terem sido estupradas pelos ditos cristãos. O grande observador da natureza viu que elas traziam filhos e algemas nos braços, mas não prestou atenção que essas mulheres também podiam chorar. Elas vieram para se casar com os milicianos e presidiários na tentativa das autoridades de formar um núcleo urbano no Sítio das Torres. Essa tentativa, porém, não deu certo, porque para os filhos da terra, não tinha terra. A região naquele tempo já era um verdadeiro latifúndio e os milicianos na maioria desertaram e os prisioneiros, ou fugiram, ou morreram na tentativa de fuga. Como consequência as bugras não casaram. Para elas, portanto, só restou “putiar”. Nossas primeiras mães, segundo RRRuschel. Agora elas são da nossa terra Lenda para nossa gente

Antônio Frederico de Castro Alves _ Navio Negreiro

Adaptado do Livro: Vale do Mampituba __ Bento Barcelos da Silva

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