domingo, 26 de julho de 2020

BUGRES





 Entre os rios “Tramandy” e “Araringuá” havia uma região litorânea, muito antiga e com um clima diferenciado. Era o território dos bugres. Um caminho milenar que eles fizeram, andando e calcando a terra, ao caminhar. Este “caminho território” era muito estreito e costeado a leste pelo mar e ao oeste por um imenso charco, dunas gigantescas e uma enorme floresta. Havia também muitos lagos, quase interligados como um imenso rosário que se confundiam com o charco e escoriam para o mar. Dentro deste universo, no seu ponto médio, havia um sub território: O Sítio de Itapebá _ um grande paraíso. Nele havia, ao sul, uma pedra chata. Nesta região se situava o Campo Santo. A Pedra Chata era excelente lugar para pousar e repousar. Havia caça, peixe, lenha e água boa. Ao norte havia o rio “Mampitubá” que, naquela época, dava vau com facilidade e tinha abundância de tainhas no outono-inverno, e de bagres na primavera-verão. Em um ponto médio, entre a Pedra Chata e o rio Mampitubá, existia as torres, e entre elas as pequenas praias que era parte do real caminho que os bugres trilhavam de norte a sul e de sul a norte em busca do clima mais ameno. No inverno deviam ir para o norte e no verão para o sul. No meio do caminho desse Grande Paraíso, na Torre do Norte, havia o Pequeno Paraíso. Muito marisco, muito peixe, muita lenha e vertentes de água boa em grande quantidade. Existia, também, um pequeno lago natural de água doce muito próximo do mar. Entre o Pequeno Lago e o mar e paralelo a eles tinha um serro que protegia esse paraíso do ar úmido e salgado soprado, do oceano, pelos ventos dominantes. Ao sudoeste uma mata que continha as dunas ali acumuladas há séculos, talvez milênios e dava proteção, no inverno, do friento minuano. Neste local é onde deviam ficar mais tempo porque era lugar onde havia proteção contra os ventos dominantes, úmidos e salgados soprados do oceano, e ainda melhor que a Pedra Chata para pousar e repousar. Este lugar dentro da região “paradisíaca” era realmente o Pequeno Paraíso. Aqui eles ficavam mais tempo e neste lugar era onde amavam muito e amavam de verdade. Porém, um dia, seres brancos, barbudos e fedorentos, chegaram e, em nome de seu rei e seu deus assassinado por eles mesmos, os destruíram para sempre. Os bugres deixaram apenas seus rastros através de seus sambaquis e seus mortos que, agora, infelizmente também já desapareceram. E assim para os bugres terminaram os caminhos e os dias. A partir de então este território litorâneo e milenar, por muito tempo, passou a ser uma terra sem dono, uma terra de ninguém. Uma terra Lendária.

Adaptado do Livro: Vale do Mampituba __ Bento Barcelos da Silva

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