Entre
os rios “Tramandy” e “Araringuá” havia uma região litorânea, muito antiga e com
um clima diferenciado. Era o território dos bugres. Um caminho milenar que eles
fizeram, andando e calcando a terra, ao caminhar. Este “caminho território” era
muito estreito e costeado a leste pelo mar e ao oeste por um imenso charco,
dunas gigantescas e uma enorme floresta. Havia também muitos lagos, quase
interligados como um imenso rosário que se confundiam com o charco e escoriam
para o mar. Dentro deste universo, no seu ponto médio, havia um sub território:
O Sítio de Itapebá _ um grande paraíso. Nele havia, ao sul, uma pedra chata.
Nesta região se situava o Campo Santo. A Pedra Chata era excelente lugar para
pousar e repousar. Havia caça, peixe, lenha e água boa. Ao norte havia o rio
“Mampitubá” que, naquela época, dava vau com facilidade e tinha abundância de
tainhas no outono-inverno, e de bagres na primavera-verão. Em um ponto médio,
entre a Pedra Chata e o rio Mampitubá, existia as torres, e entre elas as
pequenas praias que era parte do real caminho que os bugres trilhavam de norte
a sul e de sul a norte em busca do clima mais ameno. No inverno deviam ir para
o norte e no verão para o sul. No meio do caminho desse Grande
Paraíso, na Torre do Norte, havia o Pequeno Paraíso. Muito marisco, muito
peixe, muita lenha e vertentes de água boa em grande quantidade. Existia,
também, um pequeno lago natural de água doce muito próximo do mar. Entre o
Pequeno Lago e o mar e paralelo a eles tinha um serro que protegia esse paraíso
do ar úmido e salgado soprado, do oceano, pelos ventos dominantes. Ao sudoeste
uma mata que continha as dunas ali acumuladas há séculos, talvez milênios e
dava proteção, no inverno, do friento minuano. Neste local é onde
deviam ficar mais tempo porque era lugar onde havia proteção contra os ventos
dominantes, úmidos e salgados soprados do oceano, e ainda melhor que a Pedra
Chata para pousar e repousar. Este lugar dentro da região “paradisíaca” era
realmente o Pequeno Paraíso. Aqui eles ficavam mais tempo e neste lugar era
onde amavam muito e amavam de verdade. Porém, um dia, seres brancos, barbudos e
fedorentos, chegaram e, em nome de seu rei e seu deus assassinado por eles
mesmos, os destruíram para sempre. Os bugres deixaram apenas seus rastros
através de seus sambaquis e seus mortos que, agora, infelizmente também já
desapareceram. E assim para os bugres terminaram os caminhos e os dias. A
partir de então este território litorâneo e milenar, por muito tempo, passou a
ser uma terra sem dono, uma terra de ninguém. Uma terra Lendária.
Adaptado do Livro: Vale
do Mampituba __ Bento Barcelos da Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário