O FAROL
DE TORRES
Na primeira década do século passado, por necessidades náuticas, a
marinha do Brasil resolveu instalar no litoral de Torres um farol para orientar
os navios que passavam ao largo da nossa costa. O local escolhido foi o alto da
Torre Norte, situado aproximadamente aos quarenta e cinco metros de altitude e
nas seguintes coordenadas geográficas: 29º20’S e 49º43’W. Foi, então, adquirido e importado um farol francês. Até a cidade de Laguna
o transporte dele foi feito por via marítima que na época era o único meio
possível. Porém, de laguna até Torres o transporte aconteceu por carros de
juntas bovinas. Foi instalado em 25/01/1912 e montado em uma torre de ferro com
dez metros de altura, e elegantemente revestida com chapas de ferro fundido. Foi o farol mais belo
dos quatros que povoaram a nossa torre que passou a ser chamada, a partir daí,
de Morro do Farol. O local passou a ser visitado por nossos turistas,
veranistas e nativos, com muita frequência, que descortinaram aquele lugar, e
dali passaram a ver todas as belezas naturais da região, ou seja: A leste,
quase mergulhado no oceano, uns recifes denominado Ilha dos Lobos e o próprio
mar sem fim; ao norte o rio Mampituba se encaracolando entre matas nativas,
dunas e banhados, e a imensidão; ao oeste a lagoa da “Villa”, mais distante
matas nativas e banhadais, e bem lá longe a serra azul tocando no céu; ao sul,
Torre do Meio, Guarita, Torre Sul, dunas enormes e a Pedra Chata. Tanto para o norte quanto para o sul grandes extensões de
praias desertas. O local passou a ser um verdadeiro belvedere. Porém, o
primeiro farol, o mais belo, teve a vida muito curta. Morreu na adolescência.
Tinha somente dezesseis anos, quando a morte o colheu. Foi carcomido pela
maresia soprada pelos ventos marítimos, os ventos dominantes na região. Em 1928
um segundo farol foi novamente adquirido, importado e instalado na base do
anterior. Era sueco. Tinha forma de esqueleto e também dez metros de altura.
Foi inaugurado em 18/02/1928. Durou mais do que o primeiro. Mas era ainda muito
jovem, quando ceifadeira o levou aos vinte oito
anos de idade. Também foi carcomido pela maresia. Depois, em 1952, surgiu o
terceiro farol com quinze metros de altura. Foi construído de alvenaria _ um
projeto nacional e com mão de obra marisqueira. Foi feito para durar e lá o seu
corpo, de forma piramidal, ainda está firme e forte, embora sem a cabeça
pensante. Foi decapitado por mãos humanas, não pisca mais. Funcionou até 1993.
Construído para ser eterno, porém funcionou somente por quarenta e um anos.
Mesmo assim, foi o mais longevo deles. Sua cabeça, com seu olho mágico, foi
transplantada para uma torre de rádio base construída atrás dele e que passou a
ofusca-lo, interferindo e na sua eficiência. A torre de concreto da Estação de
Rádio Base _ ERB, um monstrengo de formato cilíndrico, com quarenta e seis
metros de altura passou a ser o novo abrigo do farol. E a parte pensante e
cheia de magia passou a piscar no alto da torre que o ofuscou. Venturella chama
esta torre de “o quarto farol”. Mas infelizmente novas tecnologias como GPS já
anunciavam a morte definitiva do farol de Torres. Passou a não servir mais, não
teve mais manutenção, apagou e morreu. Aquela mente brilhante que nas noites
piscava para os nautas passantes e para as sereias, já não pisca mais. Agora
temos apenas um olho cego no alto do monstrengo, Porém agora vamos lembrar,
para sempre, o farol de Torres como uma Lenda da nossa terra.
Adaptado do Livro: Torres História em Crônicas __
Bento Barcelos da Silva
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