domingo, 26 de julho de 2020

O HOMEM SECO DA IGREJA MATRIZ






O HOMEM SECO DA IGREJA MATRIZ 


José Rodrigues da Silva (1832_1896) simpatizante maragato, neto do alferes pioneiro-povoador da Villa, filho do construtor da capela de São Domingos das Torres e pai de guerrilheiros tem história que não foi contada. Tornou-se um vulto apagado. Grande proprietário de terras na região, Juiz de Paz em Araranguá, mesário de eleições em São Domingos das Torres. Era um homem que estava acamado e doente, quando, no escaldante verão de 1896, foi preso nos costões da serra, altos do Vale do Mampituba, na localidade do Espigão de Barro, por homens do governo. Seu crime foi ter enterrado um companheiro que jazia insepulto há dias e tendo seu corpo já em decomposição, e em parte devorado pelas feras. Era para servir de escarmento. José foi trazido para a Villa de São Domingos das Torres com requintes de crueldade. Por trinta quilômetros veio caminhando com os pés descalços e escoltado por homens montados. Tinha as mãos amarradas e atadas, por pequena corda, à cela do cavalo de um de seus algozes. Quando chegou na Villa foi estaqueado e depois degolado. Teve seu corpo abandonado insepulto para que as feras e aves de rapina o devorassem. Era também para servir de escarmento. Porém, na calada da noite, os amigos enrolaram aquele corpo sem vida em um couro de boi salgado e o costuraram. Depois o enterraram nas dunas da Praia da Cal entre a Lagoa da Villa e a Torre Norte. Um ano e meio após as dunas em movimento, que ameaçavam soterrar o pequeno vilarejo de uma só rua, descobrem o couro com os restos mortais de José e cunhou-se a ideia que a terra não o aceitou no seu ventre e ele secou. Segundo o folclore, o corpo seco de José foi emparedado entre as grossas paredes da Igreja Matriz. Virou lenda. Os filhos guerrilheiros fizeram uma revolta local, para vingar a morte do pai, esticando a guerra federalista na região do Vale do Mampituba por mais dois longos anos.

Adaptado do Livro:Vale do Mampituba __ Bento Barcelos da Silva

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