sábado, 25 de julho de 2020

O NAUTA E A SENHORA




O NAUTA E A SENHORA
    


Irê dos Santos Cardoso nasceu pescador. Muito jovem tornou-se salva-vidas e depois soldado da Brigada Militar. Como salva-vidas estava entre os melhores. Em período de férias da corporação, volta ao grande lago salgado. Em um barco pesqueiro vai em busca do alto mar. Foi em busca de um grande pescado. Porém, lá muito longe da costa, aquilo que parecia ser uma pescaria festiva, para um soldado em férias, tornou-se um imenso pesadelo para toda a tripulação. Cai sobre eles uma tempestade, um Nordestão. O barco lança âncora, mas balança como uma casca de noz e, para maior tormento dos navegantes, o motor e o rádio da embarcação “pifam”. O vendaval sopra cada vez mais forte e os dias passam devagar. A comida e a água ficam escassas. Irê pensa nos seus companheiros e pensa grande. Quer buscar socorro para todos. Sabia que com pequena boia atada à cintura e com sua experiência de salva vidas, as ondas o levariam para a costa. Contava com a sorte e proteção da “Senhora”, sua madrinha. Pouco antes do Sol nascer e sem ninguém na proa para servir de testemunha, se benze e se lança ao mar. Quando elevado, nas cristas das ondas crespas e espumantes, vê o brilho do Sol riscando o céu no horizonte. Após algum tempo o barco é apenas um ponto que cambaleia em um imenso deserto de águas agitadas. Depois uma serra no lado oposto. Mais tarde pequenas torres e uma cidade que desperta. O pescador está exausto e muito distante em mar aberto. Num cavado, com a humildade dos fortes, emocionado, chora e reza baixinho: Ave Maria. Cristas e cavados velozes se repetem, contudo o tempo insiste em sua lentidão. Num cavado, entre ondas, vê somente um pequeno e distante Sol, envolto por lágrimas e neblina. Numa outra crista vê céu e mar sem limites. O barco há muito tempo, perdeu de vista. Ele é como um cisco arrastado pelas águas tempestuosas. Depois de um tempo, que parecia não ter fim, o gigante Irê sente a terra embaixo de seus pés. Passaram-se mais de cinco horas. Ele foi arrastado pela tormenta vinte e tantos quilômetros. Exausto pegou carona com um carroceiro que se dirigia para o centro da cidade. Depois um automóvel o leva até os familiares e amigos que aflitos os esperavam, na foz do rio, rezando e olhando para o mar. Em seguida, após o relato do Irê, um robusto barco em missão de alto risco, parte com seus heroicos marinheiros em socorro dos que estavam perdidos. Leva comida, água e um mecânico a bordo. Sabem também que terão de ficar por lá até o fim da tempestade. Contudo, depois dos castigos do mar, dois barcos apontam no horizonte para, em seguida, “irmanados” e sem vítimas, entrar na barra e lentamente, e em festa, subir o rio.  Irê, a pouco tempo, nos deixou, mas seu nome virou LENDA para ser sempre contada pela nossa gente.
Adaptado do Livro: Torres História em Crônicas __ Bento Barcelos da Silva

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