BAIANO DO CEARÁ
Cândido
acreditava ser desertor da Guerra do Paraguai e junto com quatro parentes
abandona o campo de batalha. Tonho, Pedro, José e João são os seus
companheiros. Veio parar no Vale dos Três Forquilhas e tornou-se homem de
confiança do líder religioso e do líder político da colônia alemão protestante.
Atuou na área de segurança pública local e foi um líder maragato muito
respeitado pelos homens e amado pelas mulheres. Era cearense, mas foi apelidado
de baiano _ Baiano Candinho. Porém, foi marcado para morrer por ser oposição ao
governo. Iluminado pela luz mortiça de uma pixirica, diz a Lenda: “Lá no sertão
do distante e seco Ceará, quando a parteira levantou a criança nos braços,
magros e fortes, para dizer que era um menino, a velha e enrugada feiticeira que
acompanhava o ritual, colocou em seu pescoço, amarrado por um barbante, um
patuá e proferiu as seguintes palavras: Será um homem muito corajoso e valente,
e frente a frente ninguém terá coragem de enfrenta-lo. Para vencê-lo (prender,
ou matar) só se fizer traição muito bem feita”. Depois, com o tempo, diziam que
o patuá, envolto por um escapulário sebento, o protegia da morte. Mas a traição
foi bem feita, pois, na Noite dos Reis, um bando de assassinos se misturou com
os homens das cantorias e quando Candinho Baiano esticou o braço, para entregar a oferenda ao Menino, as mãos fortes e
assassinas de João Macaco o seguraram, enquanto a mão preta e veloz de Negro
Custódio, na noite escura como um relâmpago sem luz, levou uma faca afiada
contra a garganta de Candinho Baiano. Ele foi vilmente degolado em tempos de
paz. Guedes Francês foi rápido ao se agachar e levantar a cabeça, sem vida,
daquele corpo ensanguentado, coberto de orvalho, naquela Noite Sagrada. E
daquele cadáver, esparramado no chão, cortou o cordão e retirou o patuá para
que Candinho Baiano realmente permanecesse sem vida. Agentes do governo usaram
o nome de Deus para matá-lo. Feriram o sagrado. Um vidente cantor viu Candinho
Baiano subindo ao céu junto com o Menino que segurava sua mão enquanto ascendiam.
Os outros baianos também morreram assassinados. Vinganças de guerra em tempo de
paz. Lenda para nossa gente.
Adaptado do Livro: Vale do Mampituba __ Bento Barcelos da silva
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