domingo, 26 de julho de 2020

BAIANO DO CEARÁ





BAIANO DO CEARÁ


Cândido acreditava ser desertor da Guerra do Paraguai e junto com quatro parentes abandona o campo de batalha. Tonho, Pedro, José e João são os seus companheiros. Veio parar no Vale dos Três Forquilhas e tornou-se homem de confiança do líder religioso e do líder político da colônia alemão protestante. Atuou na área de segurança pública local e foi um líder maragato muito respeitado pelos homens e amado pelas mulheres. Era cearense, mas foi apelidado de baiano _ Baiano Candinho. Porém, foi marcado para morrer por ser oposição ao governo. Iluminado pela luz mortiça de uma pixirica, diz a Lenda: “Lá no sertão do distante e seco Ceará, quando a parteira levantou a criança nos braços, magros e fortes, para dizer que era um menino, a velha e enrugada feiticeira que acompanhava o ritual, colocou em seu pescoço, amarrado por um barbante, um patuá e proferiu as seguintes palavras: Será um homem muito corajoso e valente, e frente a frente ninguém terá coragem de enfrenta-lo. Para vencê-lo (prender, ou matar) só se fizer traição muito bem feita”. Depois, com o tempo, diziam que o patuá, envolto por um escapulário sebento, o protegia da morte. Mas a traição foi bem feita, pois, na Noite dos Reis, um bando de assassinos se misturou com os homens das cantorias e quando Candinho Baiano esticou o braço, para entregar a oferenda ao Menino, as mãos fortes e assassinas de João Macaco o seguraram, enquanto a mão preta e veloz de Negro Custódio, na noite escura como um relâmpago sem luz, levou uma faca afiada contra a garganta de Candinho Baiano. Ele foi vilmente degolado em tempos de paz. Guedes Francês foi rápido ao se agachar e levantar a cabeça, sem vida, daquele corpo ensanguentado, coberto de orvalho, naquela Noite Sagrada. E daquele cadáver, esparramado no chão, cortou o cordão e retirou o patuá para que Candinho Baiano realmente permanecesse sem vida. Agentes do governo usaram o nome de Deus para matá-lo. Feriram o sagrado. Um vidente cantor viu Candinho Baiano subindo ao céu junto com o Menino que segurava sua mão enquanto ascendiam. Os outros baianos também morreram assassinados. Vinganças de guerra em tempo de paz. Lenda para nossa gente.
Adaptado do Livro: Vale do Mampituba __ Bento Barcelos da silva

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